domingo, 4 de maio de 2014

o ultimo post

seus escritos eram ridículos porque o seu tempo era outro.  
Já não doíam mais e lhe pareciam muito óbvios. 

Os olhos já estavam calejados de chorar e lhe parecia fácil.
As mãos reconheciam facilmente um pedaço de pele
que já não mais se arrepiava à qualquer lembrança de toque.
Agora já era preciso muito mais que um tapa na cara para a ardência do ódio
e muito mais do que um beijo na boca para o queimar do romance.

Entristeceu-se quase por um segundo ao perceber que reler as cartas do fundo da gaveta assassinava assim o que um dia achou ter criado algo de belo, obrigando-se mais um vez à voltar do início e se achar insignificante. Deixava, mais uma vez, de ser um contador de histórias para tornar-se um colhedor.

abraçou as cartas, e sorriu pela primeira vez por não as ter mandado,
atirando-as ao fogo. 
e não havia mais vergonha nem história pré escrita.

atirou-se ao desvario das lembranças e, como se já as esquecesse
começou a correr para plantar mais memórias.