domingo, 27 de setembro de 2015

eu bebi suas lágrimas
pra lhe tomar as dores
agora cada punhalada em seu peito
sangra o meu coração
cada choro no escuro
inunda meu travesseiro
cada tapa que levas
eu oferto minha outra face

eu bebi suas lágrimas
pra evitar de machucar a mim mesmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Não leve a mal minhas palavras vulgares:
Não é pelo sabor dos lábios
nem pelo calor da cama.

Eu te amo

Cru.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

tratei e queimar todas as fotografias
e de apagar todas as lembranças.
as memórias não se fixam mais em mim
e as gavetas estão vazias.
aprendi a esquecer rostos
com a mesma frequência que aprendo Nomes.
deixo que as pessoas passem pelos meus dedos
ou repousem na palma da mão pelo tempo que desejarem.
tenho agora uma alma escancarada
e um coração trancado.

ele voltou,
e foi como se o conhecesse de novo.
percebi isso quando olhei para o espelho
e não me reconheci.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

a distância dos lábios;

seria preciso usar todas as palavras
para descrever o sabor dos lábios
que ainda não provei.
seria preciso usar de neologismo
para transcrever em cantigas
toda a poesia dos nossos dias.
seria preciso ainda todos os símbolos místicos
para desenhar os mapas de nossas mãos,
e encontrar nossos tesouros secretos.

Serão precisos mais de vinte mil passos
para atarmos os dedos
e pegar nossa estrada.

Chegarei a ti de sapatos gastos
e malas feitas.

domingo, 14 de junho de 2015

cada novo amor
é como um dedo
esgarçando a ferida.

é para isso que brotam os ramos das novas paixões
que se agarram nas paredes do peito:
para escancarar o buraco,
abrir passagem as lágrimas,
e fazer das águas calmas
uma correnteza.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Homem Pássaro;

Cansado do fardo de ser homem
nasceram-me, a duras penas,
um par de asas.
Não demorou para que eu estivesse
dentro de uma gaiola,
os olhos furados
para cantar a dor.
Não experimentei nem sequer a liberdade do voo.

Mesmo pássaro, canto a dor da violência dos homens.

das velhas cartas de amor ridículas;

dois poetas não fazem poesia.
juntos, as são, e isso basta pra aliviar as palavras que coçam a garganta
e que esmurra o peito.
dois poetas escrevem poesias entrelaçando os dedos,
desenhando os traços,
acariciando as letras que escorrem dos lábios.

não se desesperam pela ausência de rimas
nem sofrem canções que não assoviam.

dois poetas só se sentem poetas
quando não encontram mais palavras suficientes
para descrever qualquer poesia.

sexta-feira, 27 de março de 2015

o jardim das dores.


antes que ela partisse, preparou-lhe um adorno para a cabeça:
uma pequena coroa de rosas.

ainda estava chorosa,
e no momento em que foi coroada,
as pétalas murcharam e se misturaram no ouro dos cabelos.

“seu estúpido, você as matou!”

Rainha de si,
arrumou as malas e saiu pela porta,
pisoteando o jardim.

Servo dela, pôs-se a regar as mortas
com sua vida.

Quando já velha, regressou à casa,
de malas mofadas.

E o jardim pôs-se a vibrar,
rebrotando cores,

recobrando flores.

anestésico;

Querida Jane Junkie,

Depois de me roubar as palavras,
não contente em tirar a coisa mais bonita
e mais valiosa que eu possuía,
ele me arrancou com as garras grossas
o coração pela boca,
estrangulou as artérias,
pisoteou e torceu como um pano de chão velho e sujo
até que não sobrasse nem mais uma gota de vida.

me currou e não me ofereceu um cigarro de alívio.
me estapeou a cara quando eu esperava pela carícia.
valsou sobre meus ossos, partindo-os ao meio

sem anestésico.


alguns homens carregam nos olhos estacas afiadas
sempre procurando o centro de nosso peito.




se não fosse a lembrança de seu rosto, querida Jane
eu provavelmente já teria esquecido o meu próprio.

quinta-feira, 19 de março de 2015

borboletas

as borboletas que outrora viveram ali
não se agitaram. 

senti a estranheza
da falta do gelo nos lábios,
do farfalhar de alegrias do encontro com a primavera,
do cheiro de capim molhado entre os dedos.

as borboletas que outrora viveram ali
não se anteciparam a subir pela garganta,
nem escancararam a boca abrindo espaço para ir de encontro com seu curto tempo de liberdade.
permaneceram imóveis como se ainda fosse inverno. 

não se atiçaram com a rosa ofertada,
nem salivaram em beber o mel. 

as borboletas que outrora viveram ali
deixaram ovos que desabrocharam em novas lagartas
mas, mesmo famintas, ignoraram a comida ofertada.

Esperam fazer-se lindas à uma nova temporada de flores.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Você passa.
Pode até me cuspir, 
levar tudo o que compramos juntos,
reclamar as contas, roubar meus livros,
mas minha poesia fica! 

Tire suas mãos dela.

terça-feira, 3 de março de 2015

Querida Janie Junkie;

fui tomado por um desejo desesperador de lhe beijar a face,
de me aquecer em teu colo,
de me esquecer em teus olhos,
de ter as lágrimas limpas pelas pontas de teus dedos.

Quando foi que permiti que outras bocas
dissessem por mim o que sinto?
Quando foi que me esqueci no tempo por amor?
Quando comecei a deixar o veneno correr em minhas veias?

Costumava escrever mais.
Costumava mandar cartas à todos;
pra lua, pros pássaros.
Escrevia para lembrar à mim mesmo que eu existia.

Escrevo-lhe agora, porque sei que em ti eu ainda existo.

Isso não é uma carta de amor,
é um grito de sobrevivência.

teu sempre, Leeray.