domingo, 4 de maio de 2014

o ultimo post

seus escritos eram ridículos porque o seu tempo era outro.  
Já não doíam mais e lhe pareciam muito óbvios. 

Os olhos já estavam calejados de chorar e lhe parecia fácil.
As mãos reconheciam facilmente um pedaço de pele
que já não mais se arrepiava à qualquer lembrança de toque.
Agora já era preciso muito mais que um tapa na cara para a ardência do ódio
e muito mais do que um beijo na boca para o queimar do romance.

Entristeceu-se quase por um segundo ao perceber que reler as cartas do fundo da gaveta assassinava assim o que um dia achou ter criado algo de belo, obrigando-se mais um vez à voltar do início e se achar insignificante. Deixava, mais uma vez, de ser um contador de histórias para tornar-se um colhedor.

abraçou as cartas, e sorriu pela primeira vez por não as ter mandado,
atirando-as ao fogo. 
e não havia mais vergonha nem história pré escrita.

atirou-se ao desvario das lembranças e, como se já as esquecesse
começou a correr para plantar mais memórias. 

domingo, 6 de abril de 2014

e meu coração que andava incomodado e
trôpego,
fez morada no teu peito,
sossegou em teu espaço.
embora inda bata forte,
descansando em teu abraço.

minhas veias seguem tuas ruas,
minha língua toma a tua
e dançam noite adentro
até caírem, fartas.

os olhos contemplando a lua.

a vida se mostrando nua.



quinta-feira, 20 de março de 2014

é no vazio do peito que eu coloco minha bagagem.
poucas roupas, um sapato bom, dois livros,
quatro pares de meias quentes pra quando o calor fizer falta
e nas mãos, uma garrafa de Presidente pra quando o gelo chegar na garganta.


quarta-feira, 19 de março de 2014

os inimigos do sexo

a guerra dos sexos subdividiu os subgrupos subterrâneos que, perdidos, agora brigam entre eles.
Mulheres atingidas por cus em chamas lançado por caralhos canhões Vaginas esbofeteiam seios à mostra As bocas estão cheias de cus e pirocas e bucetas que fazem guerra.

pica e xoxota de mãos dadas tirando braço de ferro.


terça-feira, 18 de março de 2014

o homem

realiza poemas com seus dedos maquinais
encontra zona de conforto nas vias intestinais
mora dentro de si
seus olhos biomecânicos não suportam luz
a pele do homem não sente toque
oferece seus beijos por conectores atrás da nuca
enfia o dedo e troca dados
o cérebro do homem está conectado numa redoma de vidro,
intacto
quase não se mexe
federia se pudesse

o homem

o coração do homem já não precisa mais de oxigênio
o homem está finalmente livre e
procura por deus nos veias digitais.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

e se a tristeza e a dor for inevitável
abre os braços
e acolhe a ponta aguda que te fere o peito.

dele escorrerá a poesia de melhor safra.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

quando teus olhos perceberem
já estarão rasos d'água, meu amor
afogados num mar de saudade,
apertados contra o sol esperando pela sombra de um barco
que nunca volta.

domingo, 19 de janeiro de 2014

deixo ao meu velho mestre
minhas cartas mal escritas
e aos meus amores
o beijo da Despedida.

há um silêncio tranquilo na mesa do café.
poucas palavras trocadas
o gosto familiar queimando a língua.
às vezes, uma palavra tenta se precipitar,
tropeça no choro,
e se cala.

nada mais precisa ser dito.
e
eu já estou velho demais
pra escrever.