sábado, 26 de maio de 2012

meu samba de ir embora;

escuta agora a última batida do meu pandeiro
respira e sufoca o pó que sobe
e o bandolim que chora baixinho
meu samba de ir embora

lê, pela última vez, meus versos pra você
reclama o ardor da dor que nasce
sente meu abraço no teu e canta
meu samba de ir embora.

devolve os lábios que me pertenceram
desate nó a nó dos lençóis
atente-se a despedida do violão
é o samba de quem vai embora


escuta agora o último gemido da cuíca
no pé do ouvido do teu Chorinho
e o acorde final do meu samba triste
é o samba de quem vai embora.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

está na partitura dos pulsos
no colorido dos braços
nas máscaras das folhas

está no pulsar
no sangue que corre
nas roupas que caem

está na música dos corpos
no fundo da garganta
no ritmo do blues.

O MUNDO ACABA AMANHÃ, MEU JOVEM!
e de que adianta correr?

está nos caprichos do lençol
nos arautos do evangelho
no livro do diabo.

tudo faz parte de uma coisa primeira
uma coisa primata.

- agora que entendemos, fica calmo e põe a cabeça no travesseiro. aproveita que agora os sonhos também faz sentido, e sonhe comigo.




boa noite. 










"hit the road, Jack
and don't you come back no more
no more no more no more"

domingo, 13 de maio de 2012

#as pornografias dolorosas

mais um pico, e eu te amarei um pouco mais.
mais um tiro e te darei a minha alma.
mas um gole e te prometo amor eterno
mais uma mordida e eu lhe dou minhas pernas abertas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

As noites são escuras e os dias São Carlos.




Desde o primeiro suspiro trêmulo,
Os primeiros pios dos pássaros [outros]
Os primeiros raios da dúvida
Os primeiros esquecimentos dos quilômetros detrás.

Era caso de alçar voo. Liberdade pra quem mais queria. E a sensação de que este era o lugar certo. Na solidão do campo e na calmaria do rio o pulso grita. Ecoa, assustando a revoada de colibris.

as almas de ligação direta
caminhando entre o orvalho da grama
o tempo no zero.

pessoas de crânio exposto
buscando por mais e mais respostas
com ideias em espirais engolindo espirais
a Busca da Iluminação infinita

as árvores são fortes. as raízes vão fundo, no âmago da terra, ligando todas num mesmo lugar que é de pureza branca. Os galhos atingem já as pontas do futuro, apesar do fungo que apodrecem pequenas partes do seu tronco, da seiva que escorre grossa,

- Não brilha!

venenosa. Das bocas de maxilar corroído, cuspindo pragas.

é a plenitude em reflexo da lua
de Escorpião.
de Júpiter. a Lua roçando os pés na água.

é ser maluco. bicho do mato, bixo. é ser da Fauna.
é ser a flora.
é dançar sapateado no ataque de saúvas que devastaram a plantação de Policarpo Quaresma.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

o grito do samba pede por salvação!
rodeia pelos violões e tamborins
cochicha pelas caixinhas de fósforo
acaricia a ponta dos dedos dos pés
que é samba por natureza.

o grito do samba lamenta por lembrança.
e lamenta bonito
sofrido
tá sufocado, mas se atento, dá pra ouvir.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

acreditamos naquela velha história das Estradas
e corremos, com lágrimas e felicidade no rosto.
com esperança. 


pra no fim descobrimos que nem todas as estradas chegam até Roma.



e dói
pra caralho.



o fim está próximo.


Os fios de ouro refletem o Diamante
a força da Terra.
a punição vinda das ramas, 
das trepadeiras que apertam o peito
destroçam as costelas e lambe o sangue.
Ri de escárnio da máscara do desespero
da culpa tardia
os rosto da lua fria.
A crueldade vazando prata
a riqueza esfregada na cara
a impotência dos seus poderes.

o dínamo cravejado de fins
coroando-se com galhos de roseira.

42.

é a Casa da Dança dos Vestidos
a menina dança
o menino canta

é como a porta direta da Iluminação
de olhos brilhantes, as pessoas são.
caracol nos dedos ágeis
a fruta vermelha da Verdade.
o Dharma, a Arca da Salvação.


são todos Santos por razão
seu Deus, seu Monstro. o criador dos dragões dourados.



o carvalho de musgo se alongando pelo corredor dos braços.
os lamentos criando campos e frutos.

Nós somos a Energia dos vivos
os que respiram as notas
somos ondas, divindades naturais.

carregamos o grito na garganta
e o apocalipse no peito.
soam as trombetas.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

42

as línguas se trocam
de lábios enroscados, o sabor da melancia
os sopros primaveris
a costura dos pássaros cerrando os olhos
                                                               

 uma dor gostosa, o cheiro da calmaria



os melhores dias de nossa vida.

terça-feira, 1 de maio de 2012

é de lembrança que se alimenta a dor.

Querida Hanna P.

Mato-te. Não com o peso de um assassino, mas com o pesado veneno de um amor impossível. Mato-te para que não me mate antes com sua cruel e bem pensada ausência. Mas antes de te matar, escrevo essas últimas palavras numa explosão de um amor inconcreto e proibido. Minhas mãos querem te estrangular, mas minha alma berra por tua permanência. Mas é por te amar que me detenho e te mato. Preciso tornar-me um assassino para me libertar desse vício que me impede de musicar outras belezas. Amo-te com tal força que destruo meu corpo a cada chuva de granizo.

Tenho meditado sobre toda gota que tomei de suas palavras, mesmo cantando mantras pra tentar esquecê-las. Tenho me deitado com outras mulheres para substituir o seu peso que invade minha cama-corpo quando estou vazio. Passei por sete mares de gostos diferentes pra me livrar do teu, mas nenhum é forte o suficiente para tirar o seu sabor movediço do meu corpo. Não posso nem mesmo cantar a bela canção que você me ensinou sem sentir o sabor amargo-salgado da sua respiração. As gotas de outros corpos tem o sopro de sua transpiração. Tento inutilmente escrever sobre outras coisas, mas cada personagem que crio tem uma parte de teu tecido.

Sujei-me sim em outras lamas. Joguei juras de amor à outras pessoas, mas não consigo dar à outra o que dei de mais precioso: a minha verdade. Não consigo formar frases completas com outras, enquanto você arrancava livros inteiros com facilidade de dentro de mim.
Ah, e aquele último abraço! Três mil luas já se passaram e ainda sinto o aperto correndo por todo meu corpo. Três mil meses de pura lua. Enganei-me quando achei que eu poderia ser sua canção e você, a nota que faltava para a perfeição da minha obra. Destruí a minha obra! De que adianta desejar ser arcadico se você, protagonista da minha história, é inteira romântica? Não posso sentir o cheiro de feno e capim verde no teu corpo, se deitamos apenas em camas glaciais.

Morra Hanna! E que morra de forma tranqüila e indolor. Que possas descansar em paz e ainda sim, viver em mim de forma que não destrua o meu coração e infecte minhas veias com o seu corpo-alma-palavra perfeita. Que possas descansar em mim e ser feliz sem carnaval. Que faça malabares com meus sorrisos e não com minhas dores venenosas e reais. Se a mais bela mulher já foi recusada pelo mais horrendo homem, conseguirei, sem muito esforço, me ver livre dos meus desejos banais por você e ter apenas a saudade e a suavidade bela do teu corpo frio.


PS: Amar de mentira dói. Assim, pelo menos, você pode me fazer carinho.





vê, suas peças estão todas em meu museu.
de corpo suspenso, o homem sorria a vida em dois segundos.


e com um sorriso estampado no rosto descobria que seu único acerto na vida
fora a escolha da cor do piso do banheiro.



de corpo suspenso, o homem entendia o pêndulo.
mas já não contava os minutos.

tick tock.
tick tick
tick tick
tick
tack!