quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Nossas fogueiras queimaram
com o fogo do inferno
nos porões das Igrejas
de salões coloniais.
Nossa carne ardeu
com as chagas de Cristo
perfuradas em nossa pele
a ferro quente.
Nossas línguas foram cortadas
e espalhada aos mares,
pois o chão estremecia
ao som de nossas profecias.
E a água tornou-se infértil
e apodreceu a terra.
Do nosso corpo verte o sangue
que nos alimenta.
Vomitamos o Pão e o Vinho
Nós somos Monstros.
e engolimos as Sete Pragas
para cuspi-las contra o mundo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

se amar significa
renunciar minha poesia
para vivenciá-la
atravesso a espada em minha garganta
e sacrifico minhas palavras.

digo que morro!
nos braços do meu Amado

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

não existe fonética pro nosso amor:

te amo em braille 



com a ponta dos dedos
e o toque dos lábios 

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

As asas de Ícaro

te construirei
pena por pena
tuas asas de cera
para que possas alçar o tão sonhado vôo.

te construirei
galho por galho
tua colcha de retalhos
pra que possas repousar em nosso ninho.

mas tome tento, menino
que nem mesmo passarinho
atravessa o sol.

aquieta o peito!
voa bonito, mas voa baixo,
cá embaixo do meu lençol.

domingo, 12 de junho de 2016

Há um nevoeiro sombrio lá fora
Cortando os olhos
E fazendo do Sol uma nova Lua.
As mãos trêmulas das faces ocultas segurando as golas dos casacos
Procuram nas noites de sol
Por uma dose que lhe esquente o peito.
A boca que procura o beijo.
É possível aos lábios frios
Produzirem chamas?

terça-feira, 31 de maio de 2016

Estou antecipando, antes do dia da grande liquidação de amores à preços ultra elevados em prateleiras, esse nosso que eu colhi no broto, inda com frescor de orvalho pela manhã. Antecipo para lhe poetizar o que quero lhe dizer todos os dias, sem necessidade de festas ou feriados. Para que não seja falso, para que não coloquem sobre ele nenhum brilho que não seja próprio, nenhuma palavra que não seja compreendida, nenhum sentido que o altere. Tiro do palanque, escondo-o das palmas para que eu possa lhe dizer, ao pé do ouvido, o "eu te amo" cru que me mora aos lábios e as poesias das nossas madrugadas que nenhum outro ser é capaz de ler.

Estou antecipando pois tenho pressa em te ver.
Estou antecipando pois corro para te ter.
Estou antecipando pois anseio em te ser.

domingo, 17 de abril de 2016

o tempo virou do avesso.
começa a contagem
para o novo futuro no passado.
ouve-se gemidos no porão,
sangue velho de açoite anuncia
a morte da primavera.
carne podre serve a mesa
pro banquete do patrão.
o tempo virou do avesso.
pesa agora em nossos pulsos
as marcas que carregaram
os filhos da revolução
eu gastaria cada centímetro dos meus lábios
e esgotaria cada suspiro de meu peito
pra lhe dedicar todas as palavras de amor
do meu vocabulário.




quinta-feira, 7 de abril de 2016

o peso das horas

quero escrever uma poesia
que antecipe o tempo.
que traga a paz
e façam as flores renascerem.

quero escrever uma poesia
que sirva de transporte.

que façam as palavras saltarem do papel
e gritem pelas ruas
anunciando sua chegada.

quero fazer um poema
que aquiete o coração
e ignore o peso das horas.

quero fazer dos teus braços
uma linha de partitura
e compor entre seus dedos
a nossa melodia.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

Canto à Cazuza.

Hei, Rei!
A burguesia ainda fede!
Ainda não há poesia,
porque a burguesia só quer ficar rica!
Enquanto houver Burguesia
não haverá poesia!
Que se finde a piedade 
aos caretas
e aos covardes!

Não haverá perdão para o chato!
Que as mais exageradas mentes de nosso tempo
continuem a beber suas filosofias de calçada
e a dedilhar as mais trôpegas baladas de vagabundo,
e quando estivermos cantando
cante comigo!
O Poeta sempre esteve vivo!
Enquanto houver amor nessa vida,
O poeta estará vivo
E quando não houver mais Mal Nenhum,
lembre-se,
meu amor, meu cúmplice
que ainda é preciso dizer "Eu te amo"
e,
por fim,
rabiscado em um Bilhetinho Azul,
fazer brotar um Poema
pro dia nascer mais feliz.


(Nota de Rodapé a Janie Junkie, 
como não poderia deixar de ser
escrito com meu pior garrancho)

Ei, garota de Bauru,
trago Boas Novas!
recebi um Cartão Postal.
Uma carta em braile me deu uma certeza cega:
logo estaremos novamente perto do fogo!
lembra, como faziam os hippies!?
há promessas para os habituais desastres mentais
ao som de nossos rock's de descerebração.

Embarcarei no primeiro trem para as estrelas.

sábado, 19 de março de 2016

Meu pessimismo já tomou conta de mim. Não deixo de me decepcionar com as pessoas, mas já não me surpreendo mais. Aprendi a esperar menos. Consequentemente, tornei-me também um pouco mais egoísta. Não posso dizer que gosto, mas posso dizer que sofro menos. Vez ou outra, pessoas realmente queridas reconquistam minha dedicação, mas tento não esperar nada, mesmo delas.
Acredite em sua força e nas sua razão inabalável! Você pode se sentir mais solitário, mas sem sombra de dúvidas se tornará mais duro. 


E as pessoas realmente doces, as que se importam e se deliciam de estar ao seu lado, os companheiros, esses permanecerão, mesmo que sejam poucos e que os anos deformem a juventude de seus rostos numa máscara quase irreconhecível que o tempo se incube de nos modelar.





máscara de argila e dureza
que trinca, mas não quebra.

quinta-feira, 10 de março de 2016

estendeu-me uma flor, e eu a abocanhei rangendo os dentes, sentindo o perfume me descer a garganta. olhou-me surpreso por eu ter mastigado tamanha beleza.
pela manhã, assim que os primeiros raios de sol me tocaram a face, senti pousar em meu estômago as borboletas que anunciavam o nascimento de um jardim.
estendeu-me uma flor e desabrochou em mim uma primavera.