segunda-feira, 20 de novembro de 2017

certa vez
alguém escreveu num pedaço de papel velho
o que era certo
o que era errado
e todo mundo acreditou.
e todo mundo mentiu pela verdade
todo mundo matou pela verdade
e todo mundo queimou na fogueira pela verdade
e as ervas foram proibidas
e as maçãs perderam seus sabores
e o prazer se cobriu de medo
o sangue virou veneno.
os anos abaixaram as cabeças
curvaram as costas
corroeram os dentes
açoitaram a pele
enferrujou as vísceras.
Deus matou mais que Hitler
e todo mundo se calou.
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Mas dos escombros de vossos castelos
nos erguemos em fúria
e vocês se cagam de medo
em seus tronos de ferrugem sangue e osso
vocês entram em pânico:
querem salvar a família que vocês traíram
querem amar os filhos que vocês cuspiram
querem abraçar as mulheres que espancaram
querem proteger as vidas que vocês tiraram
querem o amor que vocês entregaram pra guerra
vocês fizeram amor com a guerra
e deram vida a morte.
vocês querem salvar o mundo de nós
mas nós somos a salvação:
nós carregamos as 7 trombetas no pulmão
somos saqueadores da moral,
os destruidores da ordem
nós somos o juízo final

sábado, 18 de novembro de 2017

a dor inunda o peito
procura se agarrar
escorre pelos olhos
e volta pela boca

a dor inunda o peito
a procura de alguma palavra
qualquer coisa que possa tornar o silêncio
poesia

a dor inunda o peito
e se percebe sozinha.
a dor chora a ausência

não há cheiros
não há carícias
não ha nada além de fotografias espalhadas pelo chão.

a dor turva as lembranças
e se afoga em si mesma.