quarta-feira, 17 de abril de 2024

hoje eu chorei na rua; e

imediatamente

o céu fez companhia e desaguou comigo.

talvez para me ajudar a enganar os que passavam,

talvez para lavar aquelas lágrimas

que já não fazem mais poesia. 


quantas ameaças ainda precisam ser vencidas?

hoje eu chovi na rua; e 

imediatamente

o céu fez companhia e chorou comigo.


eu voltei. agora mais fraco que nunca.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

De todas as flores no campo, colhi a mais adornada de espinhos. A dor pungente de cravejar o belo, aperto-a com força entre os dedos pra não perder seu perfume. 


Rego com sangue o solo da próxima Primavera.

Teus olhos são como sol do meio dia

Canto de sabiá tecendo melodia.


Te amo como o abrir das flores aos pássaros. Mel de pitanga no bico do araçá.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Eu gosto de você. Talvez mais do que seria sensato gostar. Mais do que é permitido. Além do profano, dos lençóis, e além do que escondo apertado na palma das mãos. Te amo como o amor que devoto aos astros: sem explicação, sem sentido, mas ainda assim amor. Amor pelo vesúvio sobre meu corpo, o cataclismo em meu ossos. Amor dos olhos da Lua e dos deltas de Vênus.

Te beberia dois oceanos pra lhe colher os Peixes. 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

então
eu gosto de você.
gosto de um jeito novo, de um significado não experimentado. gosto do jeito que se gosta do sabor do café. gosto de como quem arde o lábio e assopra pra doer de novo.

gosto de doer a garganta.

gosto como quem gostaria da ressignificação do gosto. do entregar-te novo.





[gosto], como quem nunca teve o que comer.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

polinizado;

desde seu último beijo
tenho você atravessado em minha garganta
e fincado no meu peito.

todas as cores são suas,
todas as palavras são você.

sinto correr pelas minhas veias
o perfume de seus ramos
e brotar em meu peito
o lírio de seus olhos.

teu nome floresce em meus ouvidos.
minha boca é sua flora.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

certa vez
alguém escreveu num pedaço de papel velho
o que era certo
o que era errado
e todo mundo acreditou.
e todo mundo mentiu pela verdade
todo mundo matou pela verdade
e todo mundo queimou na fogueira pela verdade
e as ervas foram proibidas
e as maçãs perderam seus sabores
e o prazer se cobriu de medo
o sangue virou veneno.
os anos abaixaram as cabeças
curvaram as costas
corroeram os dentes
açoitaram a pele
enferrujou as vísceras.
Deus matou mais que Hitler
e todo mundo se calou.
**********************************************
Mas dos escombros de vossos castelos
nos erguemos em fúria
e vocês se cagam de medo
em seus tronos de ferrugem sangue e osso
vocês entram em pânico:
querem salvar a família que vocês traíram
querem amar os filhos que vocês cuspiram
querem abraçar as mulheres que espancaram
querem proteger as vidas que vocês tiraram
querem o amor que vocês entregaram pra guerra
vocês fizeram amor com a guerra
e deram vida a morte.
vocês querem salvar o mundo de nós
mas nós somos a salvação:
nós carregamos as 7 trombetas no pulmão
somos saqueadores da moral,
os destruidores da ordem
nós somos o juízo final

sábado, 18 de novembro de 2017

a dor inunda o peito
procura se agarrar
escorre pelos olhos
e volta pela boca

a dor inunda o peito
a procura de alguma palavra
qualquer coisa que possa tornar o silêncio
poesia

a dor inunda o peito
e se percebe sozinha.
a dor chora a ausência

não há cheiros
não há carícias
não ha nada além de fotografias espalhadas pelo chão.

a dor turva as lembranças
e se afoga em si mesma.


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

quero deixar um beijo escondido 
entre as meias da gaveta
no fundo do porta joias 
fragmento de relicário 
pra que possas encontrar um pedacinho de amor inesperado. 

e será como se nos apaixonássemos 
a primeira vista 
pela milésima vez.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

tudo que tenho é uma xícara de café amargo
e duas contas de lágrimas pra aliviar o peito.

quem, de repente, emudeceu os pássaros e pisoteou as flores?

passeio pela Casa vazia
procurando com as mãos
uma memória de um afago teu.

quem, sem avisar, arrumou os lençóis e fechou as portas?

procuro pelos cantos
um sussurro da sua voz
relembrando melodias.

tudo o que tenho é uma xícara de café gelado
e dois dedos de saudade estrangulando o peito.