terça-feira, 1 de maio de 2012

é de lembrança que se alimenta a dor.

Querida Hanna P.

Mato-te. Não com o peso de um assassino, mas com o pesado veneno de um amor impossível. Mato-te para que não me mate antes com sua cruel e bem pensada ausência. Mas antes de te matar, escrevo essas últimas palavras numa explosão de um amor inconcreto e proibido. Minhas mãos querem te estrangular, mas minha alma berra por tua permanência. Mas é por te amar que me detenho e te mato. Preciso tornar-me um assassino para me libertar desse vício que me impede de musicar outras belezas. Amo-te com tal força que destruo meu corpo a cada chuva de granizo.

Tenho meditado sobre toda gota que tomei de suas palavras, mesmo cantando mantras pra tentar esquecê-las. Tenho me deitado com outras mulheres para substituir o seu peso que invade minha cama-corpo quando estou vazio. Passei por sete mares de gostos diferentes pra me livrar do teu, mas nenhum é forte o suficiente para tirar o seu sabor movediço do meu corpo. Não posso nem mesmo cantar a bela canção que você me ensinou sem sentir o sabor amargo-salgado da sua respiração. As gotas de outros corpos tem o sopro de sua transpiração. Tento inutilmente escrever sobre outras coisas, mas cada personagem que crio tem uma parte de teu tecido.

Sujei-me sim em outras lamas. Joguei juras de amor à outras pessoas, mas não consigo dar à outra o que dei de mais precioso: a minha verdade. Não consigo formar frases completas com outras, enquanto você arrancava livros inteiros com facilidade de dentro de mim.
Ah, e aquele último abraço! Três mil luas já se passaram e ainda sinto o aperto correndo por todo meu corpo. Três mil meses de pura lua. Enganei-me quando achei que eu poderia ser sua canção e você, a nota que faltava para a perfeição da minha obra. Destruí a minha obra! De que adianta desejar ser arcadico se você, protagonista da minha história, é inteira romântica? Não posso sentir o cheiro de feno e capim verde no teu corpo, se deitamos apenas em camas glaciais.

Morra Hanna! E que morra de forma tranqüila e indolor. Que possas descansar em paz e ainda sim, viver em mim de forma que não destrua o meu coração e infecte minhas veias com o seu corpo-alma-palavra perfeita. Que possas descansar em mim e ser feliz sem carnaval. Que faça malabares com meus sorrisos e não com minhas dores venenosas e reais. Se a mais bela mulher já foi recusada pelo mais horrendo homem, conseguirei, sem muito esforço, me ver livre dos meus desejos banais por você e ter apenas a saudade e a suavidade bela do teu corpo frio.


PS: Amar de mentira dói. Assim, pelo menos, você pode me fazer carinho.





vê, suas peças estão todas em meu museu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário